Sonia Abreu a primeira mulher DJ do Brasil morre as 67 anos

Produtora musical desde os anos 60 a Dj Sonia Abreu morre aos 67 anos em 26 de agosto em São Paulo, por problemas degenerativos.

Tivemos a honra de entrevista-la e deixamos aqui a nossa homenagem a Sonia Abreu!
A coluna Inspire-se Nessas Mulheres  republica a entrevista feita em 7 de junho de 2017 no Portal Meta Mulheres Empreendedoras.

Se você já viu essa alegria contagiante na pista e essas mãos trabalhando na mesa de som, sabe de quem estamos falando.
Sonia Abreu, é radiante, alegre,  festeira, simpática e se não vivesse para a música talvez não tivesse tanto reconhecimento como tem hoje. Ela sabe manter o ritmo vibrante em uma festa e mais do que mixar ela saber como rolar um som em que mantém o público dançando nas pistas até altas horas.
Para aguentar uma vida tão acelerada ela é adepta da alimentação macrobiótica e vegetariana. Levanta às 4h30 da manhã todos os dias e às 5h30 para a academia já está na academia. 
Com seu timbre forte e grave respondeu a entrevista para a coluna Inspire-se nessas Mulheres do Portal Meta – Mulheres Empreendedoras com muito bom humor.
A DJ Sonia Abreu, é empreendedora em sua carreira. Ela é a primeira DJ do Brasil. É muito mais do que mulher e pioneira,é mais até do que DJ, Sonia Abreu é uma personagem que já faz parte da história da Musica Popular Brasileira.
“Eu vivo para o meu trabalho,  eu me casei com a música, eu faço tudo pela música” comenta Sonia.

De cabelos brancos, ela mostra com muita experiência que idade não faz diferença para quem é guerreira. O currículo da pioneira e vanguardista, que abriu espaço e trouxe empoderamento feminino, colhe reconhecimento e sucesso em tudo o que plantou em sua carreira. Hoje com 65 anos de vida e 52 de profissão a primeira mulher DJ do Brasil vai muito além das conquistas , ela comprova que veio para ficar.
“Não se trata apenas de mixar músicas, mas saber quais músicas e em que sequência tocá-las” diz Sonia Abreu.
O universo musical mudou muito desde quando ela começou era chamado de Sonoplastia nos anos 1970, mas a tecnologia, as luzes e os efeitos especiais trouxeram diferenciais que ajudaram muito a primeira DJ do Brasil a se superar e manter-se viva e requisita nesse meio musical até hoje. Ela nunca teve empresário, sempre fez tudo sozinha. Cuida de todos os detalhes sozinha, desde a sua produção até o transporte dos equipamentos, assim ela sobe no palco e arrasa. Enfrentou muitas barreiras no início de sua carreira, desde a própria aceitação de sua família. Ela driblou de uma maneira bem inusitada, sempre lançando moda nas pistas e saindo a frente dos outros. Ela superou o preconceito de ser a primeira mulher dentro de um mundo totalmente masculino e é reconhecida como a primeira DJ no Brasil.
Dona de uma agenda repleta de eventos de alto nível, ela já fez festa para Nizan Guanaes, Sonia Diniz, Martha Suplicy, Henrique Meirelles, Pedro Villares, Fanny Feffer, Henri Phillip Reichtull, Luiz Carlos Trabuco, Maca Assumpção, Renato Desinamo e Sofia Cavalhosa entre muitos outros como festas corporativas para o programa Saia Justa de Arnaldo Jabor, lançamento da nova Lycra da Dupont, Deca, Casa Cor, Teleton SBT, Convenção Natura, Espaço Natura na SPFW. “Há uma ciência por trás de tudo, aspectos psicológicos e mesmo espirituais envolvidos sob a magia do encontro – é isso o que está em jogo quando as pessoas estão ali dançando. Essa é minha matéria-prima.” explica Sonia Abreu.

Sobre a DJ Sonia Abreu 

DJ Sonia Abreu | Foto: Arquivo pessoal

Sonia Maria Santos Abreu, é nascida em São Paulo, em 23 de dezembro, a capricorniana agitada, desde muito pequena aos 3 anos de idade Sonia ficava sentada em balanço próximo ao salão no fundo da casa em que seu pai ouvia música. Aquele momento era mágico e ela entrava em transe. Esse momento inesquecível é lembrado até hoje com carinho.
Sonia trabalha desde 1963 fazendo festinhas para amigos. Em 1964 participou da primeira banda chamada Sunday. Ela fez o primeiro cover no Brasil. Aos 13 anos, colocou a voz num dos primeiros covers da Jovem Guarda.
Naquela época as músicas importadas não chegavam ao Brasil, então as gravadoras chamavam os músicos que faziam arranjos muito próximos aos originais, o cantor fazia uma voz semelhante ou igual e lançavam os discos. Ela gravou o primeiro disco em 1965 chamado “The Hapiness” o original era ” The Happenings” e a música é a See you in September.  
Aos 17 anos, foi trabalhar na Rede Globo, foi produtora musical da rádio Excelsior Globo de São Paulo a Rádio Excelsior – A Máquina do Som, que era a primeira rádio de música pop no Brasil e Sonia fazia uma programação musical em que ela ditava as tendências musicais da época. Ficou por lá com sua voz radiante por dez anos, de 1968 até 1978.Trabalhou diretamente com o Presidente da Som Livre, João Araújo e o ajudou a montar a gravadora no Rio de Janeiro. Sendo que aos 25, ela lançava pela Som Livre discos e artistas que marcariam a pop music e a cena disco, tesouros hoje classificados como fundamentais para o desenvolvimento da música eletrônica no Brasil.
Quando Sônia saiu da rádio Excelsior foi trabalhar numa gravadora e gravou o disco premiado com disco de Ouro ” Automatic Lover” da D.D.Hackson. Empreendedora e visionária antes mesmo do início dos anos 1980, ela a moda das “intervenções performáticas”  com uma dançarina e um robô cenográfico.
Lançamento da Musica Automatic Lover no Estádio do Morumbi Foto| Acervo Pessoal

Com a inauguração em  1976 da primeira discoteca do Brasil no bairro dos jardins nas noites paulistanas, a discoteca Papagaio Disco Club do empresário Ricardo Amaral, ficou famosa pela qualidade de som impecável, decoração exótica como bicicletas penduradas no teto e sistema de iluminação inovador, com arcos de neon. Sonia Abreu embalava as noites como uma das DJs residentes juntamente com o DJ Robertinho.
Para os que conheceram a discoteca, a cabine era de acrílico transparente, em cima da pista, o DJ ficava totalmente dentro de uma nave, com muito som, luz e sirene.
Ao lado – Os DJs Robertinho e Sonia Abreu (de costas) na Papagaio | Foto: Reprodução
Abaixo: Notícia de Jornal da época 

Ela também esteve no Festival de Águas Claras – espécie de Woodstock brasileiro, em Iacanga (SP), em 1979  e na mesma época iniciou sua coluna sobre música na Revista POP.

Nas ondas do rádio

A Kombi onde tudo começou | Foto: Arquivo Pessoal

O projeto Nas Ondas Tropicais, que durou exatos oito anos, começou com uma Kombi uma rádio ambulante estilo sound system jamaicano, passou para um trio elétrico, rodou São Paulo e terminou numa escuna navegando pelos litorais paulista e fluminense.
“Foram tantos os momentos de pioneirismo de Sonia Abreu que fica difícil citar um só. Mas eu curto particularmente a ideia (um tanto maluca) dela, de sair a bordo de uma escuna pelo litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro, tocando músicas lá do mar para quem estivesse curtindo a praia. Falando hoje já parece uma imagem totalmente moderna, imagina isso no início dos anos 80!
Essa imagem de Sonia no barco, levando música de graça às praias, simboliza muito bem o que ela mais gosta de fazer. Distribuir seu vasto conhecimento musical com o mundo. Sim, porque ela é estudiosa. Conhece sons do Marrocos, da França, da Austrália. Esta por dentro do drum’n’bass, mas também é antenada no pop e até no sertanejo. Sonia ama música muito além de labels e preconceitos” fala Claudia Assef DJ e jornalista responsável por sua biografia.
Em 1986, a Ondas Tropicais versão barco vai para Maresias, litoral de SP | FOTO: Arquivo Pessoal

Onde ver e ouvir a DJ Sonia Abreu

Os programas de rádio, de longas e históricas temporadas na Brasil 2000 FM por dez anos e mais quatro na 89 FM são a base mais universal. Estuda e trabalha nas novidades do mercado em seu estúdio no bairro dos jardins em São Paulo.  

Desde 2010, apresenta o programa Ondas Tropicais – O Link da Música Mundial, na Rádio UOL em que ela traz muita diversidade, novidades e surpresas.

Ouça o programa semanal Ondas Tropicas e confira porque a Dj Sonia Abreu faz tanto sucesso! ou pode vê-la ao vivo, em sua residência mensal na Casa 92, em São Paulo.

 DJ Sonia Abreu – House Mix Casa 92 | FOTO: Reprodução

Uma dia de superação 

Um dos dias mais dífíceis da sua vida foi no dia em que sua mãe faleceu em um sábado. Sonia já tinha festa marcada em sua agenda. Ela comenta que ” deixei minha mãe no caixão na sala de casa e fui tocar na festa do ministro Henrique Meirelles. Voltei as 5h da manhã e dai então começou o velório e depois o enterro. Esse foi um momento muito louco e um dos mais difíceis na minha vida”

Trocas de Experiências

Com experiência internacional em sua carreira, Sonia já tocou no Marrocos, Londres e Punta del Leste e com o DJ Grandma em noite de encerramento em Itajaí – Santa Catarina.  

Homenagem e Reconhecimento

​Sonia Abreu  foi homenageada em 2015 como uma das duas lendas da música brasileira.

Sonia Abreu, a primeira DJ mulher do Brasil e segunda do mundo, e Osvaldo Pereira, o primeiro DJ do Brasil. As lendas vivas da música foram homenageados em 4 de março na Assembleia Legislativa de São Paulo, em ato solene em homenagem ao Dia Estadual do DJ. A partir de então já é comemorado em 9/3, data em que se celebra o Dia Internacional do DJ.
Ao lado os DJS Osvaldo Pereira aos 81 anos e Sonia Abreu recebendo homenagem na Assembleia Legislativa de São Paulo

Biografia

Sonia Abreu será tema da biografia preparada pela jornalista e DJ Claudia Assef pela editora Matrix, e lançará seu livro contando uma vida de histórias no final de 2017. 
“Num momento em que a profissão DJ passa por uma popularização tão grande que todo mundo se acha um pouco capaz de fazer pistas dançarem, um livro como este, contando a história de uma pioneira que estava na sala de parto de quase tudo, se faz extremamente necessário.
Mesmo sem saber, Sonia é um patrimônio deste país e já praticava o empoderamento muito antes desse termo existir. Se hoje as mulheres pedem espaço na música, em movimentos diversos espalhados pelo Brasil e pelo mundo, imagina o quão complicado deve ter sido para uma mocinha de menos de 20 anos se firmar como DJ de boate em plena era das discotecas – quando mocinha de bem devia estar, no máximo, numa pista de dança, e olha lá!” comenta a jornalista.

Escola para DJ 

Sonia Abreu | Foto: Reprodução

Tem muitas escolas de formação para DJ, onde tudo está preparado tecnicamente para o DJ. Sonia frequenta a DJ Ban. Além de aulas técnicas, em estúdio, equipamento de ponta, tem a venda de equipamentos  e montar sua própria  house mix.
“Realize seus sonhos, tenha um sonho, tenha um objetivo. Goste do que você faz, porque gostando já tem aqueles momentos difíceis, chatos, complicados, mas gostando você tira de letra. Agora você imagina, você fazer um trabalho que você não gosta, é péssimo! Tenha um objetivo com muito foco e siga trabalhando naquilo que você gosta!” Sonia aconselha as novas DJS.

Sonia Abreu a primeira mulher DJ do Brasil.
Se você já viu essa alegria contagiante na pista e essas mãos trabalhando na mesa de som, sabe de quem estamos falando.

Convite Especial Semana do DJ – Elas Mulheres no Mercado – Curadoria Taty Aguiar

Perfil de Sonia Abreu

* Sonia Abreu é a primeira DJ no Brasil.
* Foi produtora musical da rádio Excelsior/Globo de São Paulo entre 1968 e 1978, período de maior audiência da emissora.
* Trabalhou na Som Livre, produzindo séries das coletâneas Papagaio Disco Club e Excelsior – A Máquina do Som.
* Tocou em discotecas na Inglaterra e Marrocos.
* Inaugurou a discoteca Papagaio Disco Club, em São Paulo.
* Assinou coluna na revista Pop.
* Ganhou disco de ouro pela vendagem de “Automatic Lover”, de D.D. Jackson, um de seus muitos lançamentos.
* Criou a lendária rádio ambulante Ondas Tropicais, levando sua programação original para espaços públicos, primeiro a bordo de uma kombi, depois em um ônibus e até em um saveiro.
* Na 89 FM fez sucesso com o programa Dark Light.
* Na Brasil 2000 FM introduziu e consagrou a world music com Ondas Tropicais – A Música do QuartoMundo.
* Formou a Banda do Quarto Mundo com 22 integrantes, lançando um CD pela Eldorado e participando de shows ao lado de Margareth Menezes, Jimmy Cliff e Yellow Man, entre outros.
* Ondas Tropicais – O Link da Música Mundial é sua plataforma online na Rádio UOL .

Sonia Abreu, produtora musical conhecida como a primeira DJ do Brasil , morreu na tarde do dia 26 de agosto aos 67 anos, em São Paulo. Ela teve uma fadiga respiratória causada pela esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença degenerativa.

Deixe um comentário